Enquanto isso, na Bienal Brasil do Livro e da Leitura,
Minha dentista me perguntou sobre a minha exposição (a primeira) de fotografias, à qual ela não foi. Ao lhe dizer que era sobre Brasília e que o titulo era “Concretofagia – os Eixos ao sabor do desejo”, ela, lamentando, começou a especular: mostra o crescimento da cidade, tem um discurso assim ou assado, tenta provar essa ou aquela tese. Não, disse-lhe eu, ela tão simplesmente congregou minhas melhores fotos da cidade, que acabam por retratá-la viva, com as pessoas em primeiro plano. Quando fotografo, deixo que minha emoção tome conta, não vou atrás de provar nada. O que vejo e consigo captar, é o que prevalece, eu sou um mero andarilho a mercê do mundo acontecendo.
Com esta sequência, inauguro aqui um lugar para as imagens que também produzo, em resposta a um desafio de minha amiga Susana Dobal. Ao contrário daquilo que ela faz – e que eu acho genial, como já disse no meu último post – eu sou um desses fotógrafos que entra numa espécie de transe quando fotografa. No final é que eu paro pra ver o que saiu; e às vezes saem alguns pequenos milagres reveladores de coisas como a concretofagia. Caetano Veloso e Renato Russo não se entenderam quanto a quem, o Tempo ou o Infinito, seja “um dos deuses mais lindos” e eu, cá na minha trincheira especulativa, acho que é o Acaso o mais lindo de todos. É a ele que devoto a minha itinerância fotográfica.
que beleza, Andrés! parabéns pela nova fase do blog! dois piratas numa bienal de livros ho hoho hoho, e uma garrafa de coca!
E você a vê-los em primeira mão, hohohoho!
:]
Mandou bem! Tava demorando pra soltar essa ótima vertente.
Andrés, parabéns meu velho!! – Como disse o Marião – Mandou muito bem!
Realmente mandou bem, parece uma parábola sobre o comportamento humano. Só acho que esse discurso de acaso não cola. Suas fotos da exposição e daqui não são fruto do que passa por acaso pela frente, e sim do que você seleciona. A fotografia vive sendo associada a essa ideia de acaso, parece uma busca de legitimidade pelo suposto realismo do acaso, mas os bons fotógrafos são os que articularam um acaso particular. O seu acaso, a sua coerência no meio da confusão geral, é olhar para os humanos. Os personagens podem até aparecer na sua frente de uma maneira arbitrária, mas as fotos não, elas pensam, e seguem um fio. Acho isso um mérito, e não um problema.
Bravo, Susana. Isso de que as fotos pensam e de que seguem um fio. Na verdade, venho perseguindo esse fio e fiquei espantado quando ele se desenhou na minha frente. E a pergunta que me acompanha nesta nova fase, pós exposição, é o que fazer com ele. Talvez a resposta seja simplesmente continuar a percorrê-lo, o que, por vezes, talvez assuste e, então, precisemos invocar algum deus. Seu estímulo é acalentador e, deveras, tocante no que tem de fraterno e de preciso. Obrigado.
Maravilhoso, Andy