Uma (segunda, na vida) visita a Versalhes não era o mais recomendado para quem estava fugindo de uma corte, querendo a mundanidade das ruas. Mas concessões são necessárias quando se viaja acompanhado. Por sorte, o “castelo” estava prestes a inaugurar uma exposição nas suas dependências e as obras da artista portuguesa Joana Vasconcelos se espalhavam ao longo do circuito de salas.
Versalhes me fez pensar em Brasília. Era um sitio quase inóspito onde sucessivos reis da França foram progressivamente instalando aquilo que virou praticamente uma cidade e onde, em determinado momento, se instalaram de modo definitivo, levando consigo toda a entourage necessária ao exercício do poder. Um poder, como bem se sabe, absoluto.
É incrível, pois, pensar na coragem que esse povo, o francês, teve, para depor algo tão auto-evidente, tão reverenciável quanto o que se vê, preservado, em Versalhes. Os ingleses, por mais que tenham lá cortado algumas cabeças majestosas, mantiveram uma realeza, tudo bem que muitíssimo desbotada em relação ao que outrora foi. Já os franceses, inventaram um mundo inteiramente novo.
Ao percorrer os salões e os jardins desse extinto centro de poder, veio-me também aquela música do Chico Buarque que fala do Rio de Janeiro como uma futura civilização extinta (“Não se afobe não, que nada é pra já…”) e submersa na qual escafandristas irão descer para explorar suas casas, seus quartos. Quem sabe escafandristas azuis, com óculos inclusive.