UMA MÃE FAZ FALTA
Por que Belém? Eis a pergunta que me foi feita algumas vezes por interlocutores locais. Alguma coisa a ver com o Círio de Nazaré, que iria acontecer naquele fim de semana, ou simplesmente era coincidência eu estar por lá por ocasião dessa festa impressionante? Eu tentava responder, mas a cada hora saia uma coisa diferente, talvez conforme o interlocutor, talvez porque nem eu mesmo sabia direito qual era o motivo: porque é uma das poucas capitais que eu ainda não conhecia, porque se trata de um polo reconhecidamente de excelência na fotografia (e o “visual” da cidade poderia teria um papel na geração dessa excelência), porque Foucault esteve por lá e se encantou, porque a comida de lá é considerada a melhor do Brasil, porque lá moram dois amigos que eu tenho em alta conta e queria conhecer melhor, porque tem o mercado mais famoso, porque lá chove todo dia, porque isso, porque aquilo.
A questão é que tendo lá ficado por pouco mais de uma semana e ao voltar ao meu cotidiano dei-me conta que estive na mais suave das cidades. Sim o calor é grande, era pra que todos enlouquecessem, mas eis que a chuva cai aliviando o bafo e eis que o vento sopra, vindo do rio. É um primeiro equilíbrio, natural ou, talvez, divino.
Depois, tem um povo que, além de bonito fisicamente, tem um brio que se justifica, pois há esmero em tudo o que se faz, indo da comida (de fato maravilhosa e muito variada) à arte que por lá é feita (acontecia o festival Arte Pará, de enorme envergadura), passando, é obvio, pela própria festa, que reúne, todo ano, mais de dois milhões de pessoas, sem que se registrem óbitos ou incidentes de maior gravidade. Há, também, agência, engenho, o que fica logo evidente na primeira volta dada no Ver-o-Peso e seus arredores: não topei com um pedinte sequer em todas as minhas andanças.
Há um responsável por isso, por essa suavidade? Por certo que sim, diriam quase todos os belenenses a quem fosse feita uma tal pergunta: a Nossa Senhora, a Virgem de Nazaré. Eu, quase me convenço disso e meio que lamento não ter conhecido Belém há mais tempo. Talvez, se isso tivesse acontecido, teria eu dado mais atenção, nas aulas de sociologia, ao Durkheim do que ao Foucault.
Bom texto e boas fotos, Andrés. aliás qunto vc pagou para aquelas garças pousarem/posarem p você? belas criaturas matemáticas!
um bacio, Valéria Carneiro.
Há mesmo muita geometria dentro de toda boa foto, Valéria. Quanto a dinheiro, te asseguro que ele não esteve presente, nem nessa, nem em qualquer outra. Contudo, todas estão à venda, em impressão fine art. Questão de combinar.
Acho interessante o seu jeito de ver, sentir e revelar as coisas, Andrés! Parabéns!! Keep walking!!!
Obrigado, Selma!
Oi Andrés, que energia boa! Belém tem tudo belo; poderia se chamar Belolém. Senti falta das cuias de tacacá ; mas no meio de tanta gente, as cuias se perderam,não é? É Verdade: “O BRASIL NÃO CONHECE O BRASIL! ”
Abraço.
Bab.
Saudades, mestre Bab! Obrigado pela visita!